Jerusalém, 15 mai (EFE).- O papa Bento XVI se despediu hoje da Terra Santa com uma chamada para que israelenses e palestinos, com fronteiras reconhecidas, possam conviver em paz, e para que não haja mais terrorismo e guerras.
"Deixai que a solução de dois Estados se torne uma realidade e não siga sendo um sonho", disse o pontífice diante do presidente de Israel, Shimon Peres, e do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que rejeita tais condições.
"É preciso romper o círculo da violência", expressou o papa em discurso de despedida no aeroporto de Tel Aviv, pouco antes de voar de volta a Roma, e em que defendeu uma paz baseada na justiça e na reconciliação.
O papa também voltou a condenar o Holocausto, o que chamou de "um mal", e lembrou sua visita ao campo de extermínio nazista de Auschwitz, na Polônia, onde disse que morreram pais, irmãos, maridos e amigos por causa de um "regime sem Deus, de uma ideologia de ódio, antissemita".
"É um capítulo que jamais pode ser esquecido ou negado", completou.
O último dia em Jerusalém foi dedicado ao Santo Sepulcro, onde pediu um futuro de justiça, paz, prosperidade, e a se reunir com armênios e ortodoxos, perante quem defendeu a unidade dos cristãos, já que, para ele, a divisão dos seguidores de Cristo "é uma vergonha".
"Aqui morreu e ressuscitou para não morrer mais. Aqui a história da humanidade mudou definitivamente. O longo domínio do pecado e da morte foi destruído pelo triunfo da obediência e da vida. Aqui, Cristo nos ensinou que o mal não tem a última palavra, que o amor é mais forte que a morte, que nosso futuro e o da humanidade está nas mãos de um Deus previsor e fiel", apontou.
Antes de visitar o Sepulcro, o papa se reuniu com o patriarca ortodoxo Teófilo III, diante de quem afirmou que todos os seguidores de Cristo devem "redobrar" os esforços "para aperfeiçoar a comunhão", e torná-la completa, já que a divisão "é uma vergonha" que tira credibilidade do Evangelho.
A primeira etapa da viagem aconteceu na Jordânia, onde visitou o Monte Nebo, em que, como Moisés, viu a Terra Prometida.
Em Amã, Bento XVI invocou uma "paz duradoura e uma verdadeira justiça para todos os que vivem no Oriente Médio", e pediu aos cristãos que, apesar das dificuldades nas quais vivem, não abandonem a terra, "já que são indispensáveis para a paz".
O pontífice defendeu um "diálogo trilateral" entre as três religiões monoteístas", a cristã, a judia e a muçulmana.
Pela segunda vez, o pontífice pisou em uma mesquita, a de Al-Hussein Bin Talal, de Amã, e em um encontro com os líderes religiosos muçulmanos denunciou que as religiões ficam "desfiguradas" quando "servem à ignorância e ao preconceito, ao desprezo, à violência e ao abuso".
Após visitar a região do Rio Jordão onde pôde ser batizado Jesus, empreendeu viagem a Israel, a etapa mais delicada.
Logo após chegar ao aeroporto de Tel Aviv, condenou sem paliativos o Holocausto de milhões de judeus e pediu combate ao antissemitismo "onde esteja, já que infelizmente continua levantando sua repugnante cabeça em muitas partes do mundo".
O papa Ratzinger aproveitou seu primeiro discurso em Israel para honrar as vítimas do Holocausto e fechar definitivamente a polêmica gerada pelas declarações de um bispo tradicionalista lefebvriano, que negou o Holocausto, pondo em pé de guerra a comunidade judaica.
Bento XVI foi ao Memorial do Holocausto Yad Vashem e, lá, pediu que "jamais um horror similar possa desonrar a humanidade".
No entanto, a condenação pareceu pouca ao diretor do Yad Vashem, Avner Shalev, que disse que o papa teria que ter falado de sua vida durante a época do nazismo.
Segundo a imprensa local, o papa falou pouco dos assuntos e de sua boca não saíram as palavras "perdão" e "remorso".
O diário progressista "Ha'aretz" lembrou "o passado" de Ratzinger nas juventudes hitleristas e nas forças armadas do Terceiro Reich.
Em Belém, o papa deu um novo apoio às aspirações palestinas ao afirmar categoricamente que a Santa Sé "apoia" o direito dos palestinos a um "Estado soberano, seguro, em paz com seus vizinhos e com as fronteiras reconhecidas internacionalmente".
Em discurso de destacado caráter político, Bento XVI "suplicou" a todas as partes envolvidas nesse velho conflito que esqueçam "os rancores".
O papa fez uma chamada aos jovens palestinos para que não lancem mão da violência ou do terrorismo.
Da mesma forma que João Paulo II fez em 2000, Bento XVI visitou um campo de refugiados próximo a Belém, onde condenou o muro de separação construído por Israel, alegando que "é trágico ver que barreiras ainda são erguidas".
Bento XVI também visitou Nazaré, a cidade de Maria, onde defendeu perante 40 mil pessoas a família e a indissolubilidade do casamento e pediu aos Governos que apoiem o que chamou de "pilar básico da sociedade". EFE
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